SINOPSE DE "A ULTIMA CHAVE"
Novembro de 1994, região central da
Cidade do Rio de Janeiro. No antigo sobrado onde sempre viveram desde crianças,
as irmãs Olga, Berta e Eutália mantêm a mãe trancafiada no porão da casa. Na
tentativa de evitar que a vizinhança descubra seu estado de loucura
incontrolável, a mãe permanece recolhida como um animal em clausura absoluta. Seus gritos e gemidos, assim como o latido de um cão de guarda,
trancado com ela no porão, ecoam pela casa a qualquer hora do dia e da noite. O
desconforto provocado pela loucura da mãe faz parte de um cotidiano que se
limita aos afazeres domésticos, aos cuidados com a higiene pessoal e aos
trabalhos de corte e costura, que permitem ganhar o pouco dinheiro que
necessitam para uma vida austera, sem qualquer vinculo com o mundo exterior.
A personalidade contrastante das três
irmãs, mergulhadas na intimidade de uma
convivência familiar sufocante, trás a tona os conflitos de um passado impossível
de ser esquecido. Eutália é a irmã mais velha, autoritária e controladora, não
suporta a fragilidade de Berta, a mais jovem, sonhadora e frágil, enquanto Olga, vive refugiada na religião para aceitar seu
estado cada vez mais dramático de cegueira. Dia após dia, ela cumprem com suas obrigações diárias, ou se
concentram na modelagem e confecção de vestidos de festa, costurados com afinco
para a única cliente para quem ainda trabalham,
enquanto as diferenças entre elas marcam as disputas emocionais que estabelecem
o jogo de poder do convívio familiar. A responsabilidade de zelar pela
integridade física da mãe, com a comida em horários precisos, os cuidados
mínimos com a higiene e o controle da medicação durante as crises mais fortes,
marca o drama dessas três mulheres, isoladas do mundo e submetidas a uma ordem trágica,
imposta pela vergonha, pelo pecado e a desesperança.
A invasão dos morros cariocas pelo
exercito naquele verão de 94, converteu a operação militar em um divisor de
aguas na vida das três irmãs. Com a luz do sobrado cortada por falta de
pagamento, elas convivem com a movimentação das tropas na rua, como o prenuncio
de tempos obscuros que deverão ser enfrentados com união incondicional entre
elas. As velas e lampiões fazem que o dia
e a noite possam apenas ser percebidos através das venezianas, enquanto os
tiroteios e a movimentação das tropas e veículos blindados, intensificam-se do
lado de fora, e parecem abafar, misteriosamente, os gritos da mãe e os latidos do cão no porão
do antigo sobrado carioca.
Na esperança de que a cliente de alta
sociedade venha buscar seus vestidos encomendados, Eutália marca o tempo de uma
espera angustiante, com a premeditação de quem pretende libertar toda a família
de um sofrimento e de uma agonia inevitáveis. Enquanto Olga se refugia em seu
mundo quase infantil, tocando Chopin e cantigas de ninar no velho piano da sala,
Berta se esforça para cumprir com suas obrigações religiosas, já praticamente
cega. Diante dessa realidade delirante, Eutália
se agarra ao pudor e a decência, e se entrega a dimensão avassaladora de exigir
justiça, com a missão de evitar que a decadência, moral e física, contamine o
que ainda resiste em meio ao caos. Assim,
com o poder de guardar a ultima chave do sobrado, Eutália selará o destino de
todas, desnudando-se para ganhar o mundo com seu vestido de festa.
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Zé Peixoto,
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