sexta-feira, 17 de janeiro de 2020




SINOPSE DE "A ULTIMA CHAVE"




Novembro de 1994, região central da Cidade do Rio de Janeiro. No antigo sobrado onde sempre viveram desde crianças, as irmãs Olga, Berta e Eutália mantêm a mãe trancafiada no porão da casa. Na tentativa de evitar que a vizinhança descubra seu estado de loucura incontrolável, a mãe permanece recolhida como um animal em clausura absoluta.  Seus gritos e gemidos,  assim como o latido de um cão de guarda, trancado com ela no porão, ecoam pela casa a qualquer hora do dia e da noite. O desconforto provocado pela loucura da mãe faz parte de um cotidiano que se limita aos afazeres domésticos, aos cuidados com a higiene pessoal e aos trabalhos de corte e costura, que permitem ganhar o pouco dinheiro que necessitam para uma vida austera, sem qualquer vinculo com o mundo exterior.

A personalidade contrastante das três irmãs,  mergulhadas na intimidade de uma convivência familiar sufocante, trás a tona os conflitos de um passado impossível de ser esquecido. Eutália é a irmã mais velha, autoritária e controladora, não suporta a fragilidade de Berta, a mais jovem, sonhadora e frágil, enquanto Olga,  vive refugiada na religião para aceitar seu estado cada vez mais dramático de cegueira. Dia após dia, ela  cumprem com suas obrigações diárias, ou se concentram na modelagem e confecção de vestidos de festa, costurados com afinco  para a única cliente para quem ainda trabalham, enquanto as diferenças entre elas marcam as disputas emocionais que estabelecem o jogo de poder do convívio familiar. A responsabilidade de zelar pela integridade física da mãe, com a comida em horários precisos, os cuidados mínimos com a higiene e o controle da medicação durante as crises mais fortes, marca o drama dessas três mulheres, isoladas do mundo e submetidas a uma ordem trágica, imposta pela vergonha, pelo pecado e a desesperança.

A invasão dos morros cariocas pelo exercito naquele verão de 94, converteu a operação militar em um divisor de aguas na vida das três irmãs. Com a luz do sobrado cortada por falta de pagamento, elas convivem com a movimentação das tropas na rua, como o prenuncio de tempos obscuros que deverão ser enfrentados com união incondicional entre elas.  As velas e lampiões fazem que o dia e a noite possam apenas ser percebidos através das venezianas, enquanto os tiroteios e a movimentação das tropas e veículos blindados, intensificam-se do lado de fora, e parecem abafar, misteriosamente,  os gritos da mãe e os latidos do cão no porão do antigo sobrado carioca. 


Na esperança de que a cliente de alta sociedade venha buscar seus vestidos encomendados, Eutália marca o tempo de uma espera angustiante, com a premeditação de quem pretende libertar toda a família de um sofrimento e de uma agonia inevitáveis. Enquanto Olga se refugia em seu mundo quase infantil, tocando Chopin e cantigas de ninar no velho piano da sala, Berta se esforça para cumprir com suas obrigações religiosas, já praticamente cega.  Diante dessa realidade delirante, Eutália se agarra ao pudor e a decência, e se entrega a dimensão avassaladora de exigir justiça, com a missão de evitar que a decadência, moral e física, contamine o que ainda resiste em meio ao caos.  Assim, com o poder de guardar a ultima chave do sobrado, Eutália selará o destino de todas, desnudando-se para ganhar o mundo com seu vestido de festa.  

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Zé Peixoto, © all rights reserved, 2020


 


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