APRESENTAÇÃO











A ULTIMA CHAVE é uma peça teatral em 2 atos,  com texto inédito do escritor e diretor Zé Peixoto, com encenação no emblemático Street Rebels de Marataízes, Estado do Espirito Santo. A montagem teatral contempla um espetáculo com duração prevista para 1 hora e meia, com troca de ambientação entre os dois atos.  


Vanessa Frisso e Cássia Capellini durante
ensaio no Street Rebels


"A ULTIMA CHAVE" é um drama psicológico, ambientado no início da década de 90, durante o período de ocupação das favelas cariocas pelas Forças Armadas.  Conta a história das irmãs Berta, Olga e Eutália, isoladas voluntariamente do mundo exterior,  em um antigo sobrado, no centro da cidade do Rio de Janeiro. As três irmãs sobrevivem de maneira austera, com o pouco dinheiro que ganham com trabalhos de costura para uma cliente da alta sociedade.  O dote da alta costura elas herdaram da mãe, uma modista de mão cheia, agora trancafiada com problemas mentais, no porão da casa.  Resignadas com o seu destino,  Berta, Olga e Eutália vivem submersas  em um universo sombrio, com relações que transitam entre os contrastes de ódio e adoração, e os jogos de perversão familiar e social, que poderiam ser facilmente identificados em "As Criadas, escrita pelo dramaturgo francês Jean Genet em 1947, ou nos nuances trágicos do imaginário popular carioca, clássicos na  obra do grande dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues.


Hélia Camara, Vanessa Frisso e Cássia Capellini


O projeto de realização do diretor Zé Peixoto vislumbra um espaço  cênico, integrado a uma estrutura dramática com traços  de realismo, trabalhando o contraste entre o divino e o sombrio, através de uma abordagem teatral contemporânea. A forte influencia cinematográfica na carreira do diretor, assim como a peculiaridade de sua vivencia com diferentes estruturas narrativas, asseguram ao espetáculo um tratamento estético, narrativo e dramático, nos moldes das produções de vanguarda teatral.  

Montagem de estrutura teatral no Street Rebels
cenografia de Walmir della Cruz


A cenografia de "A ULTIMA CHAVE" deverá interpretar a arquitetura sombria e decadente, do velho sobrado carioca onde toda a história se desenrola, como uma extensão e representação simbólicas do isolamento vivido pelas três irmãs, enclausuradas pela vergonha de assumir publicamente a loucura da mãe. O espaço do salão, que dá acesso ao porão e aos demais aposentos da casa, assume o papel de conexão  dos personagens em suas atividades diárias, além de concentrar as memorias de um passado que precisa ser passado a limpo. Neste sentido, um conceito de iluminação intimista, versando por uma interpretação sombria do universo emocional das personagens, reforçara ainda mais a carga dramática de cada um dos elementos cenográficos, evoluindo no contraste realista do espaço, na medida em que a trama avança na direção a um desfecho  clássico de tragédia.   






A importância do figurino em "A ULTIMA CHAVE", traduz a indumentária como uma segunda pele que todas as personagens precisam destruir para alcançar a liberdade. A oposição de valores morais que Olga e Berta evidenciam no conflito com a irmã mais velha, transformam o figurino em uma metáfora permanente do processo de transformação das três irmãs. O calor abrasador do verão carioca, a clausura de janelas e portas, as duras funções domesticas e o oficio de alta costura, determinam a tipologia desse figurino. Submetidas a uma ruína moral e perversa, Eutália tiraniza com pudor a geografia do corpo de Olga e Berta, enquanto os modelos confeccionados por elas para um cliente da alta sociedade carioca, servem de deleite para ilusão de um sonho inalcançável.



Cassia Capellini em cena durante o espetáculo


A direção de elenco, conta com três atrizes com vasta experiência profissional. Cássia Capellini é Berta, a irmã mais nova, inconsequente e sonhadora.  Vanessa Frisso encarna Olga, a religiosa que representa o ponto de equilíbrio da família, e está quase cega.  E Hélia Câmara com a personagem de Eutália, a irmã mais velha, que encarna a redenção de todas as faltas e fraquezas de caráter, e faz cumprir a qualquer custo a lei do mais forte. A linha de desenvolvimento dramático desses três personagens, assim como as referências para a construção de suas atividades físicas e ações com memória afetiva e sentimental, estarão revestidas por uma espécie de crônica  do cotidiano moral da classe média urbana brasileira. 

Ensaio fotográfico de Davi Ferreira

A encenação de uma montagem teatral de "A ULTIMA CHAVE",  escrita por Zé Peixoto durante o início da redemocratização do pais, expõe de maneira simbólica,  segundo o saudoso autor e dramaturgo Luís de Lima,  "a cerimonia fúnebre que antecede a consciência dos jogos perversos aos quais estamos todos expostos". "A ULTIMA CHAVE" é uma metáfora do isolamento vivido pelo homem contemporâneo, e de sua sensação de impotência diante do que somos obrigados a sublimar em busca da sobrevivência.

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